Reuniões corporativas

Estreiando uma nova categoria no CF_GIGOLÔ: “Mundinho corporativo“:

Algumas empresas (e profissionais – normalmente de nível gerencial, diretoria) me surpreendem cada vez mais. Você já participou de uma reunião em que um dos participantes não fala português? Pode ser um europeu, um norte-americano ou mesmo um argentino, não importa. Sempre, nestas situações, o brasileiro (mesmo que seja a imensa maioria presente – 8 para 1, no caso da reunião de hoje) é sempre gentil o suficiente para falar a língua do visitante (o que é uma bela forma de respeito e bajulação), mas muitos não estão preocupados em ser apenas gentis e se focar no quê estão dizendo, mas sim no *como* estão dizendo.

Nas reuniões deste tipo (e com esse tipo de gente), o que importa mesmo é mostrar que você sabe falar inglês, espanhol ou qualquer outra língua, de forma bonita e com sotaque de quem morou uns 15 anos por lá. Deve acompanhar o “cardápio” da reunião, comentários do tipo “dizem que o meu espanhol é parecido com o dos portenhos.. cóf… [tossida aristocrática] aliás, certa vez, quando eu estava jantando em Buenos Aires/Londres/Nova Iorque [troque por qualquer lugar fora do Brasil, vai parecer chique, mesmo que seja Luanda] blá, blá, blá, blá…”

Não importa o que você efetivamente está falando, pode ser o maior dos absurdos, o que vale é “impressionar” os presentes com sua volúpia, vasto vocabulário (mesmo que sejam traduções literais do português e que não façam sentido para quem escuta) e sotaque nova-iorquino aprendido em revistas de management e escolinhas de inglês “saia falando inglês em 100 horas”, ou mesmo em viagens à Disney com a filharada. Mesmo que isso signifique o absurdo de sair da reunião sem ter decidido ou dito nada de concreto (para desespero dos gringos que vieram aqui para decidir alguma coisa).

Então fica aqui o apelo: esqueça o COMO, preocupe-se com o QUÊ você fala nestas reuniões. Se o seu inglês, espanhol, francês ou alemão não soa como o de um nativo, isso é absolutamente normal (e para algumas pessoas pode até ser charmoso)! Você se irrita com um estrangeiro que fala com sotaque? Bem, por que então eles se irritariam com o seu? (a não ser que sejam cretinos – neste caso você não deveria estar na reunião)… Não perca seu tempo se desdobrando para fazer aquela pronúncia americanizada, afrancesada ou argentinizada (seja lá o que isso for). Comunique e explique, assim simples. Mesmo com erros de pronúncia, de flexão verbal e preposições (me lembram os alemães da família dizendo “a carro”). O importante (e fundamental) é se fazer entendido. Você vai impressionar mais os demais participantes do que qualquer outra coisa. Se isso não adiantou, então vai uma dica no seu ouvido: é feio forçar um sotaque de uma língua que não é a sua… shhhhhh.. fui.


Cada vez mais acelerado

Excelente reportagem da Super Interessante sobre algo que nos afeta em todas as esferas: tempo.

Cada vez mais acelerado


Acid reading

E já que estamos falando de livros… Para aqueles que, como eu, tem resalvas aos modelos guruzentos de administração e cultura empresarial, bem como à literatura de auto-ajuda empresarial (ou mesmo pessoal) feita por consultores palpiteiros, que quase nunca viram (ou fizeram) funcionar suas práticas e buzz-words na vida real, segue uma pequena lista de livros que já tive o prazer de ler e ajudam a construir uma visão mais crítica sobre as “verdades absolutas” e “modelos ideais”, absolutos.

Não existe verdade absoluta, não existe modelo ideal. Existem casos e casos, modelos e modelos, e principalmente: aquilo que funciona e aquilo que não funciona. Eis a lista:

. Executivos neuróticos, empresas nervosas;
. A arte da guerra para quem mexeu no queijo do Pai Rico;
. Todos os clássicos de Dilbert;
. Relações Desumanas no Trabalho;
. Comedia Corporativa;
. Máximas e mínimas da comédia corporativa;
. Abaixo o pop-management;
. Voce é o máximo! A história do puxa-saquismo.

Bom proveito. Só não vá pedir demissão… 😉


Imagem não é nada, sede é tudo

Quando você não tem nada de bom a dizer, invente, aumente e fale difícil, sempre vai existir um mané para te escutar.

Essa parece ser uma verdade máxima de muitos departamentos de marketing de empresas (de todos os portes) no Brasil e no mundo. Tomem como exemplo esta recente propaganda (vide imagem – clique para aumentar) veiculada em quase todas as revistas de informática de nome no Brasil.

Estou até imaginando o que passou pela cabeça do criador da peça: “vamos colocar uma declaração de uma pessoa que pareça dinâmica, inteligente, ocupando um cargo importante, cheia de buzz-words para dar um ar de coisa profissional, testada e aprovada“. O problema é que o sujeito esqueceu do óbvio: dar legitimidade à declaração, com o nome da bela mocinha de braços cruzados e com “cara de conteúdo” da foto (cliquem nela). Gerente de Marketing de onde? De uma multi-nacional? Ou seria da papelaria do Seu Zé que tira Xerox?

A cada dia que passa percebo que a arte de encher lingüíça é altamente valorizada no nosso mercado de trabalho. Quem já passou por empresas grandes sabe da imensidão de projetos e dinheiro gasto com o blá-blá corporativo que não diz nada, não adiciona nada, não faz nada. O que mais me impressiona é que os dirigentes parecem gostar disso. Valorizado é aquele profissional que impressiona com jargões da última moda, com o visual sofisticado, com uma conversinha mole altamente lubridiante. São raros os dirigentes que sabem reconhecer estes tipinhos e não são enganados. Como diria Scott Adams, talvez porque muitos dos dirigentes atuais, forjados com livretos de auto-ajuda de gurus marketeiros, sejam exatamente estes tipinhos. A única diferença é que já são casos perdidos, crentes de que são estas qualidades guruzentas, no melhor estilo “O Aprendiz”, que tornam uma pessoa um bom profissional.

Quem se lembra do “corporate bingo” e outras sátiras a esta situação? Todo mundo acha graça, mas não pensa seriamente nisso, é tudo muito natural. O que mais me diverte (e irrita ao mesmo tempo) no ambiente corporativo é a filosofia gerúndica do “vamos estar podendo”, da ignorância e ineficiência mascarada de discuro bonito e cheio de blá-blá, das mentiras e inflação de resultados e atos pífios que não merecem comentários. Se você trabalha numa corporação onde os resultados são questionáveis, mas os relatórios apresentam estes resultados como sendo a 8a maravilha do mundo, desconfie. Se a empresa onde você trabalha segue fielmente a filosofia do “casa de ferreiro, espeto de pau”, desconfie mais ainda. Que legitimidade tem uma empresa que sequer sabe gerenciar a ela mesmo (seus recursos, sua tecnologia, sua metodologia, etc) tem em vender “soluções” para outras empresas?

Saiba identificar sinais de que a empresa vende aquilo que não sabe fazer (falar é diferente de efetivamente fazer). Desconfie também quando a propaganda, a apresentação e todo o show parece ser bom demais para ser verdade. A máxima do “cão que muito late, pouco morde” nunca foi tão verdadeira em nossas empresas de tecnologia.

Fique de olho. Isso vale para empresas que vendem soluções para outras empresas e para empresas que vendem soluções internamente e especialmente para você, profissional competente. Prefira ser taxado de chato e anti-social à mais um daqueles engravatadinhos de gel no cabelo que falam, falam, mas fazem muito pouco.

Leituras recomendadas sobre o assunto:

EXECUTIVOS NEUROTICOS, EMPRESAS NERVOSAS

ARTE DA GUERRA PARA QUEM MEXEU NO QUEIJO DO PAI RICO

e claro, o clássico O PRINCÍPIO DILBERT

E por falar em “arte da guerra para fulano, para beltrano, para seu cachorro”, no próximo post falarei sobre este mundo dos “gurus” empresariais, seus livros, suas fórmulas e conselhos para lá de óbvios e/ou duvidosos.


Foco naquilo que realmente importa – Sobre vestimenta no trabalho

Iniciando a categoria “Mundinho Corporativo” no CFGIGOLO. Para começar, gostaria de falar sobre vestimenta. Sim, vestimenta (não me veio outro nome na cabeça). Quantos de nós somos obrigados a vestir roupas não condizentes com o país tropical em que vivemos? Parece que as pessoas fingem não saber (ou sentir) que terno, gravata e até mesmo calças e camisas de manga cumprida NÃO devem ser usadas num país quente e tropical como o nosso, especialmente nesta época do ano. Não somos pavões. Mesmo assim estamos todos lá, vestidos “adequadamente”, em nome da imagem, do “profissionalismo” e da boa impressão junto às outras pessoas. O pior é que esta é uma enganação geral que eu e você seguimos. Uma convenção coletiva absolutamente desprovida de bom senso em termos de conforto e condições adequadas (em alguns casos insalúbres mesmo) para que se trabalhe. Só reforça a máxima cretina do “se trabalho fosse bom, não seria remunerado”.

Todos sabem que é ruim (fisicamente falando) trabalhar metido num terno, gravata e afins em um ambiente úmido e quente, mas “fingem” ser coisa absolutamente normal. O fingimento que acaba virando condicionamento (que é quando você faz algo sem pensar).

Eu conheço raros (diria exóticos) individuos que preferiam estar vestidos de terno e gravata ao invés de bermuda, camiseta e um chinelo num verão como o nosso, com manhãs batendo nos 32oC. O ser humano gosta (e merece) conforto. Usar terno no calor definitivamente NÃO é confortável (ok, o conceito de conforto é relativo, que o digam os masoquistas). No calor, usar termo talvez seja bom apenas no deserto do Saara, onde os beduínos usam roupas grossas e se cobrem de cima em baixo (e não é por causa da religião), mas a questão ali é mera sobrevivência. Eles se vestem daquela maneira para se proteger das intempéries externas. Ou então, talvez seja gostoso usar terno na america do norte e europa, onde temos uma temperatura média de 10-15 graus em 2/3 do ano. Mas ambos os extremos definitivamente não são o Brasil, nem mesmo no Sul e Sudeste do país.

Alguns podem argumentar: é um comportamento socialmente aceitável. Eu concordo, mas talvez apenas num contexto global e bem generalista. Na “sociedade do seu escritório”, um micro cosmos social feito de pessoas que você vê e se relaciona todos os dias (as vezes mais do que seus próprios filhos) isso já deveria estar mais evoluido, especialmente em escritórios de empresas cujo core seja tecnologia, onde se deve (ou deveria) prezar pela funcionalidade, simplicidade, inteligência e uso adequado de recursos. Recentemente algumas empresas, num sinal claro de aceitação de que as coisas devem evoluir, estão finalmente adotando o “casual dress” para todos os dias da semana. Oras, quanto tempo mais vão levar para perceberem que é hora de fazer um outro “upgrade” de bom senso e liberar, camisetas de algodão, por exemplo?

Outras empresas, para evitar o constrangimento que o fato de se vestir confortavelmente (leia-se: casualmente) para trabalhar pode trazer para clientes e funcionários, adotam a camiseta pólo com o logotipo da empresa bordado. Eu acho ótimo, de verdade. Tem várias vantagens. A camiseta pólo é bem confortável e não deixa de ser elegante (conceito aliás muito questionável), mas isso é papo para outro dia.

Há quem diga também que usando um terno ou uma roupa mais formal você se apresenta como um profissional sério e competente. Eu penso (e vejo) isso da maneira exatamente oposta. Numa entrevista, por exemplo, a última coisa que presto atenção (e se presto) é a vestimenta do candidato. São inúmeros os casos de “profissionais” absolutamente incompetentes que usam terno e gravata. Eu percebi que é simplesmente muito mais sensato (e inteligente) não dar importância a isso. Sou protagonista de um preconceito inverso: se o candidato se veste de uma maneira muito formal, talvez seja para esconder a sua falta de “forma”, conteúdo e principalmente de desempenho naquilo que realmente importa: o trabalho e o conhecimento. Falta de competência mascarada com boa aparência. Não caiam nessa. O profissional se faz pelo que tem dentro, pelo que sabe e principalmente: pelo que efetivamente é capaz de fazer. Cortar estas babaquices de se vestir assim e assado é, na minha opinião, uma maneira de ir direto ao ponto, sem rodeios (ou penduricalhos e adereços da moda). Seu cérebro deve estar desprovido de idéias pré-concebidas, deve deixar de prestar atenção no sapato do candidato, do colega ou do chefe. Deve se abster em perceber se fulano ou beltrano fez a barba, se cicrana ou fulana está vestida como Carla Perez ou como general da KGB. No trabalho do dia-a-dia, ou mesmo numa entrevista, seu cérebro deve estar sintonizado no que as pessoas efetivamente produzem, não naquilo que externalizam. Atente-se à real personalidade desta pessoa, ao seu real “currículo” e não àquele que ele quer mostrar, usando terno ou inflando o ego num belo currículo impresso. Afinal de contas, quando esta pessoa estiver “livre” do trabalho, ela certamente estará vestindo algo mais confortável e adequado (no meu entender) e também agindo de forma mais natural. Trabalho não deveria ser uma vida distinta, separada, deveria ser uma extensão da sua própria vida, e isso inclui a vestimenta, IMHO.

Se eu dirigisse uma empresa focada em resultados, em competência técnica e eficiência, baixaria uma política (porque é preciso esse tipo de coisa para quebrar um condicionamento vicioso, assim como estabelecê-lo) de que os funcionários poderiam trabalhar vestidos da maneira que melhor se sentissem, o mais confortável possível (sem exageros obviamente), para trabalhar e produzir. E para não deixar dúvidas de que realmente é para se vestir de forma confortável, eu, dirigente e “exemplo maior” da empresa, seria o primeiro a usar, num dia quente, uma calça jeans, um tenis ou um daqueles sapatenis (não pode ser um trapo velho!) e uma camiseta de algodão bem confortável, agradáveis para se trabalhar.

A natureza é inteligente e preza pelas soluções mais eficientes possíveis. Nós, seres humanos, não deveriámos fugir disso. Um radiador tem a forma que tem em nome da eficiência e não da aparência. Se o trabalho envolvesse visita à clientes cuja cultura empresarial primasse pela aparência (infelizmente são muitas), diria a todos os funcionários para deixarem guardados num armário (lugar de terno) da própria empresa uma roupa adequada para estas visitas e que só as usassem quando necessário.

Tenho certeza que os dias economizados em visitas ao médico devido à mudanças bruscas de temperatura (entra no escritório com ar condicionado, sai para almoçar com um sol de 40 graus, volta, etc, etc), economizados com um trabalho melhor, saudável e fisicamente confortável (nesse quesito o calor é pior que o frio, pois você não tem como espantar o calor de forma individual, tal como fazemos com o frio ao usar uma blusa lã, casaco e afins. No calor apenas ar ar-condicionado ou pulando na água…) seriam muito mais justificados que quaisquer “benefícios” gerados pelo uso de uma conduta de vestimenta, ou “dress-code” que, como o próprio nome já diz, é uma porcaria importada de algum país onde neva. 😉

Se o problema é falta de glamour, de rechear o trabalho com fatores adicionais tais como modo de falar, modo de se vestir, de agir, de executar, etc (não entendo porquê, mas respeito a necessidade de alguns nesta questão), que estes sejam feitos pelos modos mais sinceros e diretos (sem ser rude) de se dizer as coisas, pelos modos mais inteligentes e confortáveis de se vestir, pela maneira eficaz (não confundir com eficiente) e simples de se agir e de executar. Belo é justamente isso, o resto é enrolação e perda de tempo.

E por falar nestes países onde se tem neve, basta visitar o campus de empresas de tecnologia cuja excelência seja real e palpável – e onde não se perde tempo com estes preciosismos – tais como Google, Yahoo!, Microsoft, entre tantas outras, ou mesmo o campus de alguma universidade ou centro de estudos (o MIT, por exemplo) para ver que mesmo lá, eles procuram se vestir da maneira mais confortável possível, que definitivamente não é um terno, calça com camisa para dentro e uma tira de apertar barrigas (vulgo cinto).

Durante o tempo em que estudei geologia na USP, tive um professor de glaciologia que tinha uma frase célebre que ilustra bem esta situação. A frase era: “não existe vida inteligente acima dos 25 graus“… (e nós alunos completávamos felizes em coro: “e nem antes das 10h da manhã!!“…). Foco naquilo que realmente importa, isso é que é fundamental.


Coffee

“As 500 maiores empresas da Fortune investem 0,0025% de sua receita em segurança de TI. Se gastam 0,0025% – e certamente essas empresas gastam mais com café, merecem ser hackeadas. E por sinal, serão.”

— Richard Clarke, assessor especial da Casa Branca para segurança digital, em Fevereiro 2002.