Cancelled without prejudice

O final do mês de Setembro e começo de Outubro foi um período bastante difícil para mim. Como bom taurino, é comum me sentir em apuros diante da necessidade de tomar uma decisão entre uma opção ou outra sem ter elementos claros e/ou palpáveis, ou mesmo tempo para coletar dados e informações sobre estas opções. Quando a diferença entre elas são óbvias (ex: algo bom versus algo ruim), fica fácil decidir. Mas e quando ambas opções são muito boas? Foi exatamente o que me aconteceu no campo profissional.

Depois de 6 meses como consultor e 10 meses como Coordenador de TI numa das melhores ONGs onde já pude trabalhar (um time de primeira, uma estrutura ímpar, orçamento 100% garantido), decidi que era hora de buscar uma oportunidade na iniciativa privada e encerrar, pelo menos por enquanto, minha longa relação com a Amazônia e com o terceiro setor. Precisava aprender como funciona uma empresa grande, sacar qual era desse mundo e passar para o “outro lado”, uma vez que só tinha contato, esporádico, como consultor autônomo. Se pudesse ser em uma empresa de tecnologia, melhor ainda.

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Entre as oportunidades que apareceram, a primeira era bastante tentadora: trabalhar na área de desenvolvimento web do BID, o Banco Interamericano de Desenvolvimento. O fato de o BID ser uma grande organização/instituição já era interessante por si só – e cumpria os objetivos que eu havia fixado para “novos desafios”. Se adicionarmos o fato de o BID ser uma instituição internacional e multicultural, de o trabalho ser em Washington DC (uma das melhores cidades dos EUA para se viver, apesar do custo de vida elevado) e, oras, de o salário ser em dólares, a oportunidade era praticamente irrecusável. Foi graças a um grande amigo (que inclusive já foi editor neste blog) que tive acesso a esta oportunidade. Nessas horas é que você percebe que, de fato e a despeito de todas as dicas manjadas de gurus de auto-ajuda, é muito importante manter um bom network. Eu sou profundamente grato ao Emanuel Costa por ter aberto as portas para mim no BID (e espero que elas se mantenham abertas).

Malas prontas, passagens compradas, visto de trabalho G4, instruções deixadas eis que me aparece a Locaweb…

Antes mesmo de começar a conversar com o BID, eu já estava participando do processo seletivo na Locaweb. Mas a resposta demorava a vir. Na data limite, e já tendo dado um “sim” verbal para o pessoal do BID, a proposta da Locaweb finalmente chega.

Eu detesto desistir (e avisar) em cima da hora, mas neste caso não tive saída. Aceitei a proposta da Locaweb e disse não para o BID, Washington, ColdFusion, etc, etc… Fiz mesmo sem ter certeza de que estava fazendo a coisa certa (ainda não sei, e claro, não saberei nunca). Mesmo aplicando-se a regra do “nunca olhar para trás”, é uma decisão foda.

O que ameniza a minha barra com o BID é que pelo menos eu ainda não tinha assinado um contrato, e fazia menos de uma semana que o BID havia feito a proposta, tempo razoável para pensar em aceitá-la ou não – ainda mais implicando em mudança de país. Nesse último aspecto, vale mencionar, achei que eles poderiam ter oferecido um pouco mais de ajuda para a expatriação, mas isso foi apenas um detalhe, e pesou pouco na desistência. De qualquer maneira, o mais importante é que eu ainda não tinha embarcado para os EUA e começado a trabalhar. Ainda sim, me sinto em grande débito e profundamente incomodado por ter desistido tão próximo da data de embarcar, e espero que as pessoas envolvidas entendam a minha decisão.

Foi muito difícil, mas pesou a possibilidade de se trabalhar numa área fascinante e em profunda mudança (já dizia o ditado do Google: “My other computer is a data center“). Ficar no Brasil também tem as suas vantagens práticas. Moro há 300 quilometros de um dos lugares mais bonitos do planeta: o Planalto do Itatiaia, dentro do Parque Nacional do Itatiaia – do qual sou membro do Conselho Consultivo. Mesmo que os EUA seja um país igualmente bonito, me faria muita falta o que temos aqui. Tenho uma ligação especial com Itatiaia e com as montanhas da Mantiqueira. Entra no pacote também a família e a questão cultural. Eu conheço bem os EUA, já passei algumas temporadas por lá (não como turista) e, creio não ser movido pelo desejo tão latente em nós, latino-americanos, de conhecer e viver o “american dream”, uma cultura e estilo de vida que, no fundo, já conheço. Mas isso já uma outra (longa) história.


Tietagem

Quantos de vocês já puderam apertar a mão ou conversar (sobre as impressões pessoais e emoções) com alguém que já esteve no espaço? Pois eu já! Mês passado, vindo de Manaus, numa escala atrasada em Brasília, conheci Marcos Pontes, o primeiro astronauta brasileiro, que esteve na ISS durante uma semana. Eu já tinha falado sobre ele em 2006 aqui mesmo. Marcos é astronauta da NASA, engenheiro aeronautico pelo ITA, além de piloto de caças e tenente-coronel da FAB. Em suma: é um típico astronauta (coloque aqui toda a aura que um astronauta carrega – para mim ele já era fodão apenas por ser piloto de caça…).

Celebridade anônima, num país onde ídolos são jogadores de futebol, cantores de funk e outros, Marcos estava quieto e com o olhar distante, sentado sozinho num banco da sala de embarque, escutando música pelo MP3 player como qualquer um. Esperava o mesmo vôo atrasado que eu, para Congonhas. Pedi licença e disse que conhecia ele. Ele pareceu surpreso, mas feliz ao mesmo tempo, pelo reconhecimento no meio de tanta gente apressada e “importante”. A conversa foi uma típica conversa de nerds, mas com alguns pitacos de poesia, especialmente ao descrever as sensações de se ver nosso lar, a Terra, do espaço, com direito a contar detalhes sobre as visões maravilhosas de tempestades vistas de cima (bem de cima), do mundo a noite (luzes das cidades) e toda sorte de curiosidades sobre o espaço e a Terra vista de cima, pelos próprios olhos, ao vivo. O embarque já estava sendo anunciado e eu também não queria atrapalhar sua espécie de meditação. Tenho certeza de que ele, com o seu fone de ouvido (ele não tirou durante todo o vôo), sonhava ou recordava os momentos que passou lá em cima,  numa posição extremamente previlegiada, voando mais alto que todos nós.

Deu tempo de bater uma foto na fila de embarque, claro. =)

Marcos Pontes e Alex Hubner

Marcos Pontes