Foco naquilo que realmente importa – Sobre vestimenta no trabalho

Iniciando a categoria “Mundinho Corporativo” no CFGIGOLO. Para começar, gostaria de falar sobre vestimenta. Sim, vestimenta (não me veio outro nome na cabeça). Quantos de nós somos obrigados a vestir roupas não condizentes com o país tropical em que vivemos? Parece que as pessoas fingem não saber (ou sentir) que terno, gravata e até mesmo calças e camisas de manga cumprida NÃO devem ser usadas num país quente e tropical como o nosso, especialmente nesta época do ano. Não somos pavões. Mesmo assim estamos todos lá, vestidos “adequadamente”, em nome da imagem, do “profissionalismo” e da boa impressão junto às outras pessoas. O pior é que esta é uma enganação geral que eu e você seguimos. Uma convenção coletiva absolutamente desprovida de bom senso em termos de conforto e condições adequadas (em alguns casos insalúbres mesmo) para que se trabalhe. Só reforça a máxima cretina do “se trabalho fosse bom, não seria remunerado”.

Todos sabem que é ruim (fisicamente falando) trabalhar metido num terno, gravata e afins em um ambiente úmido e quente, mas “fingem” ser coisa absolutamente normal. O fingimento que acaba virando condicionamento (que é quando você faz algo sem pensar).

Eu conheço raros (diria exóticos) individuos que preferiam estar vestidos de terno e gravata ao invés de bermuda, camiseta e um chinelo num verão como o nosso, com manhãs batendo nos 32oC. O ser humano gosta (e merece) conforto. Usar terno no calor definitivamente NÃO é confortável (ok, o conceito de conforto é relativo, que o digam os masoquistas). No calor, usar termo talvez seja bom apenas no deserto do Saara, onde os beduínos usam roupas grossas e se cobrem de cima em baixo (e não é por causa da religião), mas a questão ali é mera sobrevivência. Eles se vestem daquela maneira para se proteger das intempéries externas. Ou então, talvez seja gostoso usar terno na america do norte e europa, onde temos uma temperatura média de 10-15 graus em 2/3 do ano. Mas ambos os extremos definitivamente não são o Brasil, nem mesmo no Sul e Sudeste do país.

Alguns podem argumentar: é um comportamento socialmente aceitável. Eu concordo, mas talvez apenas num contexto global e bem generalista. Na “sociedade do seu escritório”, um micro cosmos social feito de pessoas que você vê e se relaciona todos os dias (as vezes mais do que seus próprios filhos) isso já deveria estar mais evoluido, especialmente em escritórios de empresas cujo core seja tecnologia, onde se deve (ou deveria) prezar pela funcionalidade, simplicidade, inteligência e uso adequado de recursos. Recentemente algumas empresas, num sinal claro de aceitação de que as coisas devem evoluir, estão finalmente adotando o “casual dress” para todos os dias da semana. Oras, quanto tempo mais vão levar para perceberem que é hora de fazer um outro “upgrade” de bom senso e liberar, camisetas de algodão, por exemplo?

Outras empresas, para evitar o constrangimento que o fato de se vestir confortavelmente (leia-se: casualmente) para trabalhar pode trazer para clientes e funcionários, adotam a camiseta pólo com o logotipo da empresa bordado. Eu acho ótimo, de verdade. Tem várias vantagens. A camiseta pólo é bem confortável e não deixa de ser elegante (conceito aliás muito questionável), mas isso é papo para outro dia.

Há quem diga também que usando um terno ou uma roupa mais formal você se apresenta como um profissional sério e competente. Eu penso (e vejo) isso da maneira exatamente oposta. Numa entrevista, por exemplo, a última coisa que presto atenção (e se presto) é a vestimenta do candidato. São inúmeros os casos de “profissionais” absolutamente incompetentes que usam terno e gravata. Eu percebi que é simplesmente muito mais sensato (e inteligente) não dar importância a isso. Sou protagonista de um preconceito inverso: se o candidato se veste de uma maneira muito formal, talvez seja para esconder a sua falta de “forma”, conteúdo e principalmente de desempenho naquilo que realmente importa: o trabalho e o conhecimento. Falta de competência mascarada com boa aparência. Não caiam nessa. O profissional se faz pelo que tem dentro, pelo que sabe e principalmente: pelo que efetivamente é capaz de fazer. Cortar estas babaquices de se vestir assim e assado é, na minha opinião, uma maneira de ir direto ao ponto, sem rodeios (ou penduricalhos e adereços da moda). Seu cérebro deve estar desprovido de idéias pré-concebidas, deve deixar de prestar atenção no sapato do candidato, do colega ou do chefe. Deve se abster em perceber se fulano ou beltrano fez a barba, se cicrana ou fulana está vestida como Carla Perez ou como general da KGB. No trabalho do dia-a-dia, ou mesmo numa entrevista, seu cérebro deve estar sintonizado no que as pessoas efetivamente produzem, não naquilo que externalizam. Atente-se à real personalidade desta pessoa, ao seu real “currículo” e não àquele que ele quer mostrar, usando terno ou inflando o ego num belo currículo impresso. Afinal de contas, quando esta pessoa estiver “livre” do trabalho, ela certamente estará vestindo algo mais confortável e adequado (no meu entender) e também agindo de forma mais natural. Trabalho não deveria ser uma vida distinta, separada, deveria ser uma extensão da sua própria vida, e isso inclui a vestimenta, IMHO.

Se eu dirigisse uma empresa focada em resultados, em competência técnica e eficiência, baixaria uma política (porque é preciso esse tipo de coisa para quebrar um condicionamento vicioso, assim como estabelecê-lo) de que os funcionários poderiam trabalhar vestidos da maneira que melhor se sentissem, o mais confortável possível (sem exageros obviamente), para trabalhar e produzir. E para não deixar dúvidas de que realmente é para se vestir de forma confortável, eu, dirigente e “exemplo maior” da empresa, seria o primeiro a usar, num dia quente, uma calça jeans, um tenis ou um daqueles sapatenis (não pode ser um trapo velho!) e uma camiseta de algodão bem confortável, agradáveis para se trabalhar.

A natureza é inteligente e preza pelas soluções mais eficientes possíveis. Nós, seres humanos, não deveriámos fugir disso. Um radiador tem a forma que tem em nome da eficiência e não da aparência. Se o trabalho envolvesse visita à clientes cuja cultura empresarial primasse pela aparência (infelizmente são muitas), diria a todos os funcionários para deixarem guardados num armário (lugar de terno) da própria empresa uma roupa adequada para estas visitas e que só as usassem quando necessário.

Tenho certeza que os dias economizados em visitas ao médico devido à mudanças bruscas de temperatura (entra no escritório com ar condicionado, sai para almoçar com um sol de 40 graus, volta, etc, etc), economizados com um trabalho melhor, saudável e fisicamente confortável (nesse quesito o calor é pior que o frio, pois você não tem como espantar o calor de forma individual, tal como fazemos com o frio ao usar uma blusa lã, casaco e afins. No calor apenas ar ar-condicionado ou pulando na água…) seriam muito mais justificados que quaisquer “benefícios” gerados pelo uso de uma conduta de vestimenta, ou “dress-code” que, como o próprio nome já diz, é uma porcaria importada de algum país onde neva. 😉

Se o problema é falta de glamour, de rechear o trabalho com fatores adicionais tais como modo de falar, modo de se vestir, de agir, de executar, etc (não entendo porquê, mas respeito a necessidade de alguns nesta questão), que estes sejam feitos pelos modos mais sinceros e diretos (sem ser rude) de se dizer as coisas, pelos modos mais inteligentes e confortáveis de se vestir, pela maneira eficaz (não confundir com eficiente) e simples de se agir e de executar. Belo é justamente isso, o resto é enrolação e perda de tempo.

E por falar nestes países onde se tem neve, basta visitar o campus de empresas de tecnologia cuja excelência seja real e palpável – e onde não se perde tempo com estes preciosismos – tais como Google, Yahoo!, Microsoft, entre tantas outras, ou mesmo o campus de alguma universidade ou centro de estudos (o MIT, por exemplo) para ver que mesmo lá, eles procuram se vestir da maneira mais confortável possível, que definitivamente não é um terno, calça com camisa para dentro e uma tira de apertar barrigas (vulgo cinto).

Durante o tempo em que estudei geologia na USP, tive um professor de glaciologia que tinha uma frase célebre que ilustra bem esta situação. A frase era: “não existe vida inteligente acima dos 25 graus“… (e nós alunos completávamos felizes em coro: “e nem antes das 10h da manhã!!“…). Foco naquilo que realmente importa, isso é que é fundamental.


11 Comments on “Foco naquilo que realmente importa – Sobre vestimenta no trabalho”

  1. crisdias disse:

    Eu sempre disse que terno e gravata no Brasil é coisa de português, com toda a carga pejorativa que isso possa trazer. Não dá.

    Já vi absurdos como programadores de um banco, aquele pessoal que nenhum cliente vê, trabalhando mais de 12 horas por dia, 6 dias por semana, de “terno e gravata”. É claro que o terno ficava na cadeira e a gravata alargada até o umbigo.

    Banco é o mestre de terno-e-gravata. Mas sexta-feira, dia onde 90% das empresas aboliram terno, fui a Brasília e estava todo mundo de “armadura” num calor dos infernos.

    Os ingleses quando colonizaram o mundo usavam bermudão e camisa cáqui. Mas a portuguesada (e acho que a francesada também) acham que chique é ficar andando com marca-de-sovaco na camisa.

  2. Fábio disse:

    De fato concordo que a roupa não diz nada sobre o individuo, trabalho em Brasília num calor infernal e pra piorar sou obrigado a usar terno e gravata todos os dias numa cidade a qual a temperatura é de no mínimo 29º todos os dias (isto quando nao está mais quente) e pra agravar a situação, aqui o ar é seco, é praticamente um deserto.
    O pior de tudo e ter ar-condicionado na sala e ter que deixa-lo desligado, pelo motivo que muitas pessoas nao “gostam” de ar-condicionado.
    E tem mais tanto a vestimenta não diz sobre a pessoa, que o nossa país está cheio de “Engomadinhos” no Congresso, Senado, Câmara etc (Tipo um Severino Cavalcanti da vida) que são os maiores ignorantes, larápios, e salafrários que existem.
    Sem mais deixo aqui meu protesto sobre tremenda ignorância.

  3. E o recorte de gênero?
    abaixo o tailleur tb!

  4. PATRICE disse:

    Desculpe-me mas tenho que fazer um comentário… Vc disse que a roupa não diz nada sobre o indivíduo. Sinto, mas tenho que discordar da sua colocação. A roupa identifica, comunica. Vc disse usar terno e gravata. Pois é… pela sua roupa, podemos pensar que vc é um funcionário do governo, um executivo que esta aqui em missão, um diplomata, advogado, corretor, enfim… vc esta comunicando: eu trabalho, tenho profissão, não sou desocupado… vestindo um terno e gravata vc estará passando uma imagem de que é um homem supostamente bem sucedido profissionalmente e por ai vai. Se vc estivesse vestido com uma calça jeans e uma camisa… vc passaria despercebido… sem ser notado… ai sim a roupa poderia não estar dizendo nada, mas ainda vai comunicar que vc é do sexo masculino e que dependendo da modelagem ou marca é um homem que supostamente tem dinheiro pra compra-la. é isso…………. a roupa que vc veste diz quem vc é e a que tribo pertence. Ela nomeia e exclui. até para paquerar a roupa é fundamental. Se vc ver uma mulher quase nua, o que vc vai pensar? vai pensar que ela esta afim de algo mais e que esta disponível… por outro lado, a que esta vestida com recato, vc terá mais dificuldade de identificá-la…

    desculpe ter dado pitaco nisso, mas é como funciona o sistema de moda…

    Meu nome é Patrice – moro em Brasília – sou estudante de moda e me formo semestre que vem. Precisando de alguma coisa, poderá me encontrar no patriceneiva@hotmail.com (msn)

    nem sei quem vc é… e nem li tudinho que escreveu, estou pesquisando sobre o mercado de brasilia e me deparei com o final da sua pagina e li sua colocação o que prontamente discordei……………. beijo e bom fim de semana

  5. PATRICE disse:

    Desculpe mas tenho que fazer um comentário… Vc disse que a roupa não diz nada sobre o indivíduo. Sinto, mas tenho que discordar da sua colocação. A roupa identifica, comunica. Vc disse usar terno e gravata. Pois é… pela sua roupa, podemos pensar que vc é um funcionário do governo, um executivo que esta aqui em missão, um diplomata, advogado, corretor, enfim… vc esta comunicando: eu trabalho, tenho profissão, não sou desocupado… vestindo um terno e gravata vc estará passando uma imagem de que é um homem supostamente bem sucedido profissionalmente e por ai vai

  6. patrice disse:

    corrigindo

    desculpe… eu me referia ao post crisdias……….

  7. eduardo disse:

    vestindo um terno e gravata vc estará passando uma imagem de que é um homem supostamente bem sucedido profissionalmente e por ai vai. Se vc estivesse vestido com uma calça jeans e uma camisa… vc passaria despercebido… sem ser notado… ai sim a roupa poderia não estar dizendo nada, mas ainda vai comunicar que vc é do sexo masculino e que dependendo da modelagem ou marca é um homem que supostamente tem dinheiro pra compra-la. é isso…………. a roupa que vc veste diz quem vc é e a que tribo pertence. Ela nomeia e exclui. até para paquerar a roupa é fundamental. Se vc ver uma mulher quase nua, o que vc vai pensar? vai pensar que ela esta afim de algo mais e que esta disponível… por outro lado, a que esta vestida com recato, vc terá mais dificuldade de identificá-la…

    “nomeia e exclui”…é quase um sobrenome…
    use um Armani e seja muito bom…

    ou voce tem, ou voce é nada…

    welcome to the jungle

  8. Alan César Dias Amaral disse:

    Olá Patrice tudo bem? gostaria de lhe fazer a seguinte pergunta: vou a um casamento neste final de semana, porém não ligo nem um pouco para essa questão de moda então me responda quais roupas e quais cores posso usar neste casamento?
    Desde já agradeço pela colaboração!

  9. Alan César Dias Amaral disse:

    Olá Patrice tudo bem? gostaria de lhe fazer a seguinte pergunta: vou a um casamento neste final de semana, porém não ligo nem um pouco para essa questão de moda então me responda quais roupas e quais cores posso usar neste casamento?
    Desde já agradeço pela colaboração!

  10. Priscilla disse:

    Olá, Alex Hubner, td bem?
    Estou escrevendo uma matéria para a revista Isto É Dinheiro e gostaria de te entrevistar a respeito do uso de terno e gravata no trabalho.
    Qual seu e-mail?
    Qq coisa me escreva: priscilla@istoe.com.br
    Obrigada
    Abç
    Priscilla