Adobe Flex é Open Source! E agora?

O dia 26 de Abril passado foi um dia histórico. O dia em que a Adobe anunciou que uma grande parte do que envolve o Flex será open source (sob a Mozilla Public License). Os componentes do Flex já tinham o seu código disponível para a comunidade visualizar e estender, mas não eram oficialmente licenciados como open souce. Agora, além dos componentes, outras peças importantes da tecnologia, dentre elas o compilador e o debugger (escritos em Java) serão open source.

E por que? Por que a Adobe fez isso?

Um dos motivos mais citados que eu tenho visto é o medo da competição do Silverlight, da Microsoft, chamado por alguns de “Flash-killer”, inclusive pelo anúncio do Flex open source ter sido poucos dias após a Microsoft anunciar oficialmente o Silverlight. Outrora este era conhecido por WPF/E, e o “E” é de “everywhere”. Ou seja, já era sabido da intenção da Microsoft de ter uma tecnologia de apresentação cross-platform.

A Adobe pode até temer uma competição do Silverlight, mas a decisão de ir para open source está longe de ser exclusivamente por causa disso. Mas então…

Para atrair desenvolvedores! Ponto. Pode parecer uma abordagem estranha. Será que a Adobe não deveria conquistar as empresas? Sim, é claro que deveria, e o potencial da ferramenta, cases e estatísticas já o fazem. Mas são os desenvolvedores que efetivamente transformam todo esse potencial em softwares de verdade.

É errado achar que apenas as empresa tem o poder de determinr a popularização de uma tecnologia. Os desenvolvedores também tem seu papel. São eles serão seduzidos pela tecnologia. Eles que formarão uma base de desenvolvedores para que uma empresa sinta-se confortável em usar algo (e não ficar na mão depois). Eles que terão que aprender algo novo. Eles podem transformar algo novo e diferente em algo fácil e produtivo. Já repararam que há livros sobre tecnologias da Microsoft que ainda estão em beta? E a Adobe continuara a dar suporte corporativo para aqueles que desejarem, mantendo a confiança de seus clientes.

A estratégia da Adobe tem se mostrado aos poucos, inclusive sob a forma de uma transição no modo como a empresa lida com suas tecnologias. Primeiro a drástica mudança no licenciamento do Flex, SDK gratuíto, Tamarin, e agora o Flex será open source.

Nada disso foi feito por acaso. A Adobe está se empenhando muito no Flex, e ele é peça fundamental da estratégia da Adobe, assim como o envolvimento da comunidade. As comparações com o WPF e o Silverlight agora não serão exclusivamente no mérito técnico – hoje as convicções e o modo de pensar dos desenvolvedores tem peso o suficiente para decidir sobre o futuro de uma tecnologia.


Enviando mensagem 2 de 2…

Eu não participei do beta do Office 2007, apenas comprei-o depois de supostamente ele estar “pronto”, porém fico impressionado pela existência de um bug estúpido no Outlook. Ao enviar uma (ou várias mensagens) de e-mail (mensagens que estão na caixa de saída) usando o botão “enviar e receber”, imediatamente após o início do envio, o Outlook substitui a informação do número de mensagens no rodapé (“enviando X de X mensagens”) por uma que sempre mostra o número de contas de e-mail que participam do processo de enviar e receber. Por exemplpo, se você está enviando apenas UMA mensagem, mas o seu Outlook está configurado com 4 contas de e-mail (particular, do trabalho, etc), a barra de status vai te mostrar rapidamente “Enviando mensagem 1 de 1” e na seqüência vai te mostrar “enviando mensagem 4 de 4” (troque pelo número de contas que você tem configurado no Outlook) e variações malucas de 3 e 4, 2 e 4, 1 e 4 (dependendo do progresso de checagem POP/SMTP de cada conta, e não mensagem como ele diz).

O produto é bom, mas tem umas coisas que me deixam com raiva… É um detalhe besta, estúpido, mas que toda hora me desvia atenção e me faz pensar por breves momentos “pô, porque ficaram tantas mensagens acumuladas até agora?” ou variações: “será que eu respondi mais de uma vez a mesma coisa?”. Haja!


Dica: instalando o Photoshop CS2 no Windows Vista

Adotar um sistema operacional antes da hora (e no caso da Microsoft significa adotá-lo antes do primeiro service pack) tem dessas coisas. Não conseguia instalar o Photoshop CS2 no Vista de jeito nenhum, apesar de ele estar listado como “compatível” em listas não oficiais de compatibilidade. Depois de fornecer o serial e escolher a pasta de instalação padrão (C:Program FilesAdobePhotoshop CS2), o instalador retornava a seguinte mensagem: “The folder you have selected is invalid. Please select another folder to install %s”. Ao informar uma outra pasta de instalação, fora da “C:Program Files”, o instalador prosseguia sem problemas. Então matei a charada: é o sistema de proteção do Vista bloqueando a criação e cópia de arquivos pelo instalador na pasta de programas.

Para contornar essa situação bastaria configurar o nível de privilégio do arquivo de setup para rodá-lo como Administrador, o problema é que o arquivo de setup do Photoshop é do tipo Windows Installer (.msi), que não oferece a possibilidade de aumentar o privilégio (pelo menos não que eu saiba).

A saída então foi criar manualmente a pasta “C:Program FilesAdobePhotoshop CS2”, dar privilégios de controle total para o meu usuário e lascar a instalação, que correu sem problemas. Mas ao rodar o programa, sou informado de que não tenho privilégios suficientes. Neste caso basta alterar o programa para rodar como Administrador. Tudo funcionando bem agora.

Reclamavam que o Windows era inseguro, agora que ele é mais seguro, vão reclamar também… 😉


Outlook 2007, primeiras decepções

Por conta de seguintes processos pelo fato de obrigar as pessoas terem o IE instalado em máquinas Windows, o Outlook 2007 – que anteriormente usava o enginee do IE para confeccionar mensagens em HTML – agora só oferece suporte ao enginee HTML do Word 2007, que é muito ruim (e lento). Não há como desabilitar isso, de forma que estou sendo forçado a voltar para o formato plain-text (o que no fundo até que é uma coisa boa).

Post relacionado: Outlook 2007’s HTML rendering stuff-up


Office 2007, tá na mão

Office 2007

Agora é só esperar pelos bugs! 😉

Brincadeiras à parte (eu jamais gastaria dinheiro com um software ruim quando existem outras alternativas) o concorrente direto (e gratuito) do MSOffice, o OpenOffice ainda tem que comer muito arroz e feijão para chegar lá. Que me desculpem os puristas e os defensores da filosofia open source. Eu ainda prefiro abdicar de toda esta “liberdade” em nome de uma maior produtividade e qualidade no trabalho. Infelizmente não existe outra suíte de escritório igual nem tão completa (comparável, vá lá) ao Office, especialmente a 2007. É minha opinião, mas parece ser ponto pacífico, por mais que digam o contrário.


Windows Vista – Lançamento em São Paulo (Extra Itaim)

Por falar em pirataria, hoje é o lançamento do Windows Vista e do Office 2007. Como sou nerd e fãnzoca do tio gates, resolvi fazer “compras” no Extra do Itaim, onde estava rolando o lançamento oficial (às 00:00 de hoje) do Vista. Houveram algumas promoções tais como comprar o Vista Home Premium e levar o Office 2007 (limitado às 10 primeiras pessoas), teclados e mouses (primeiras 200 pessoas) e brindes (camisetas, frisbies, mousepads) que logo acabaram. Quando eu cheguei lá (por volta das 00:40) estavam dando o último teclado. Eu tenho lá minhas dúvidas de que foram vendidas 200 cópias do Vista ou que eles distribuiram 200 teclados/mouses em menos de 30 minutos… Mas ainda sim, vá lá. Eu não estava lá por conta de um teclado mesmo.

30-01-07_0048.jpg

E olha, só de sacanagem eu fui com a minha camiseta anti-Microsoft, mas ninguém notou… 🙁 Eu acabei comprando o Vista e o Office 2007 para mim e para minha esposa (que não é nerd, mas é heavy-user do Office).

Acho que eu ainda tenho muita coisa legada no meu XP, por isso talvez só migre daqui um tempo (quando estiver menos atolado e puder ver as questões de compatibilidade, software-por-software, com calma). Mas o notebook da Deborah será uma ótima cobaia até lá… Ser casado com quem não manja muito tem dessas vantagens. 😉

UPDATE: uma hora dessas as piadinhas preconceituosas certamente já estão prontas: “e aí, vai vender o carro para pagar a compra?…… hmmm… não chega a este ponto, mas deixa para lá… (um precinho mais camarada, especialmente para nós hermanos latinos, bem que poderia rolar).


Promocenter

Governo brasileiro critica ranking da pirataria. É claro… afinal de contas, por aqui as leis são cumpridas com rigor (a começar pelos nossos políticos) e o governo realmente é eficiente no combate ao crime organizado (pirataria sendo um deles). Esse ranking é uma absurdo, mentiroso!

Talvez seja por isso que ao passear em plena Avenida Paulista (só é a avenida mais famosa do país), possamos comprar os mais recentes lançamentos da indústria a preços promocionais. Tudo por “10 reau”, com direito a “garantia” e troca em caso de defeito. Não se limita aos softwares, tem de tudo um pouco.


Multiplos monitores no Windows? Use o UltraMon

E já que é para fazer propaganda de softwares (na real eu não ganho nada por isso), vale sugerir um daqueles grandes-pequenos softwares que aumentam e melhoram bastante o uso do computador no dia a dia. Eu costumo plugar meu notebook num monitor adicional tanto em casa quanto no trabalho, e como usuário de Windows XP sofro com a falta de opções e até mesmo de previsibilidade do Windows no que diz respeito a gerenciar multiplos monitores.

O Ultramon supre estas e outras necessidades de quem usa multiplos monitores (notadamente designers e programadores). Confira aqui a lista de features.

Ultramon


Software Wars

Alguns de vocês já devem conhecer, outros não (dos quais me incluo). O gráfico abaixo (clique para aumentar) é uma divertida representação da “guerra” entre as diversas frentes (empresas, consórcios e grupos) contra o domínio da Microsoft na área.

software_wars.png

E o mapa do “circo de operações” é constantemente atualizado. Na versão de Janeiro de 2006, por exemplo, a tropa do IE6 estava batendo em retirada e a do MSIE 5.2 tinha se rendido no front. Divirta-se, imprima e cole no seu mural de recados, como qualquer geek/nerd que se preze faria.

[Software Wars]


Críticas à Web 2.0

ATUALIZAÇÃO: o post abaixo foi condensado e transformou-se num artigo no Webinsider. Devido à maior exposição, gerou um número maior de comentários e compartilhamento de idéias sobre o tema. Desta maneira a leitura do artigo é uma boa pedida para quem deseja ir direto ao ponto e conhecer um maior número de opiniões (favoráveis ou contrárias à crítica).

Artigo Web 2.0 é uma revolução? Então me deixem criticar
____

Mais uma vez me vejo as voltas discutindo a tal Web 2.0 na Wikipedia. Desta vez fiz questão de pontuar algumas críticas no referido artigo, especialmente depois que um “especialista” em Web 2.0 (Web 2.0 é um lance novo, “revolucionário”, mas, veja só, tem “especialistas” de monte, atrás de cada moita) apareceu por lá e resolveu alterar substancialmente o artigo, de forma a retratar a tal Web 2.0 como sendo algo realmente novo, revolucionário, quase de outro mundo.

Aparentemente críticos da Web 2.0 não existem (ou são bem poucos) no Brasil. Uma busca no Google retorna pouquíssimas opiniões (sejam de posts, artigos ou mesmo comentários em fórums e listas de discussão) contrárias ao termo e a idéia. Exceção ao já conhecido (e referenciado) post de Henrique C. Pereira no Revolução Etc, que já levantava a lebre há um ano. As críticas são, em sua maioria, importadas. Destaco os artigos de John Dvorak, crítico já conhecido (um dos primeiros) do termo (aliás ele é crítico de qualquer coisa, mas essa é outra história). Por esta razão, tenho me empenhado a dar pequenas contribuições para a crítica, e quem sabe fazer com que outros profissionais adotem uma postura mais crítica e se desvencilhem da tradicional babação-de-ovo e comportamento maria-vai-com-as-outras que acomete defensores apaixonados da Web 2.0 tal como ela é descrita e propagandeada por aqui.

Tenho arrepios ao ler reportagens e textos que tentam explicar o que é a Web 2.0, onde podemos ver declarações como: “A Web 2.0 nasce para reinar” ou “Web 2.0, o futuro da Internet” ou ainda “Web 2.0, uma forma de ficar milionário” e as variações religiosa-ameaçadoras “A Web 2.0 já chegou! Você e a sua empresa não podem ficar de fora!” ou “Esqueça tudo o que você sabe de Internet, chegou a Web 2.0” (esta última, pérola encontrada na revista INFO), entre tantas outras declarações “vibronas” para o termo. E olha que eu não estou incluindo as declarações mais apaixonadas que costumeiramente se vê em qualquer revista de renome e/ou em 10 entre 9 blogs e sites de “especialistas”. A coisa beira a histeria e me lembra muito (ainda que em menor escala) a histeria que acompanhou o boom da Internet no final dos anos 90. Naquele tempo, reportagens de capa, “especialistas” e gurus de toda sorte estavam dedicados a falar e inflar sem culpa a mais nova maravilha do mundo moderno: a Internet. Tinha-se a impressão de que a Internet era capaz de mudar (e melhorar) o mundo radicalmente, quebrar paradigmas (mesmo os mais duros), mudar a vida de todos, curar o câncer, erradicar a miséria e a ganância humana, trazer a paz mundial, entre outros milagres e realizações extraordinárias dignas de Chuck Norris (ok, estou exagerando, mas que os comentários eram exagerados e desproporcionais, eram…). Hoje parece que a Web 2.0 é uma repaginação daquela histeria toda. O trocadilho é inevitável: é a Histeria 2.0 (já patentearam esse termo?).

Para começar, o que exatamente é Web 2.0? Existem mil e uma definições, basta inventar uma (qualquer papagaiada ou buzzword será bem vinda), eu mesmo já “teorizei” sobre o tema. Das explicações que se esforçam para serem sérias, todas trazem um punhado padrão de “regras” para a Web 2.0 (“se você não seguir estas regras, seu site ou sua empresa não será Web 2.0”…). O problema é que ao surgirem novas idéias (ou repaginações) estas são imediatamente jogadas no mesmo saco de “coisas” da Web 2.0, sem qualquer escrutínio, dando a impressão que a tal Web 2.0 é simplesmente um nome que se dá para qualquer coisa que funcione (mesmo que não “funcione”, não dê lucros operacionais – vide YouTube), que seja popular (consiga atrair e reter um bom número de usuários, mesmo que estes sejam formados quase que exclusivamente por adolescentes ávidos por diversão e entretenimento digital de consumo rápido) ou “nova” (mesmo que não seja tão nova assim) na Internet. A coisa é mais ou menos assim: se é pop, então é Web 2.0.

A Web 2.0 não trouxe nada de novo em termos de tecnologia e de idéias, tal como mostrarei mais adiante com alguns exemplos e fatos. A Web 2.0 não é uma mudança tão expressiva ou revolucionária como dizem (e vendem – ah sim, não se iluda, tem muita gente fazendo dinheiro em consultoria com essa nova hype) por aí. Para mim a Web 2.0 poderia ser resumida numa equação bastante simples:

A “VELHA” INTERNET * AUMENTO NO NÚMERO DE USUÁRIOS = WEB 2.0

Note que nesta equação o único elemento “novo” é aumento significativo no número de usuários, especialmente os com acesso a banda larga. Em outras palavras: It’s the user stupid! As idéias e “regras” da Web 2.0 já existiam. O que não existia era um número significativo de usuários e de banda para justificá-las e implementá-las.

É bastante simples entender e verificar isso, mas os “especialistas” da Web 2.0 não vêem as coisas desta maneira. Para eles a Web 2.0 é algo “novo”, “revolucionário”, e que “vai mudar tudo o que está aí”. Estas afirmações implicam na coisificação da Web 2.0, implicam tornar a Web 2.0 um mero produto (acho que exatamente isso que os consultores querem), dar um nome, registro de patente, data de nascimento, versão, regras e pontos bem definidos, etc, sem falar na necessidade de um “criador” (Tim O’Reilly?) e fiéis seguidores. Em minha opinião, os “especialistas” da “Web 2.0” estão para a Internet como os Criacionistas estão para a ciência. Por mais óbvio que seja o fato das coisas simplesmente evoluírem, natural e continuamente, prevalecendo o que funciona em detrimento do que não funciona (tal como Darwin teorizou), os “especialistas” da Web 2.0 insistem que as coisas só existem depois de terem sido criadas, inventadas, nomeadas (de preferência com algum nome descoladinho) e, principalmente, propagandeadas. Alguns gurus mais avançados (aqueles que já atingiram um nível de abstração máximo dessa viagem lisérgica chamada Web 2.0), já estão discutindo seriamente a Web 3.0, cuja equação seria: Web 2.0 + semântica + virtualização de comunidades + qualquer outra idéia ou coisa que se tornar popular até lá (só para garantir que o termo vai “colar” e significar alguma coisa). Agora só faltam dizer que a semântica (e a necessidade dela) e virtualização de comunidades é algo novo na Internet, é uma idéia r-e-v-o-l-u-c-i-o-n-á-r-i-a… O que era motivo de piada parece estar tomando forma.

Os “especialistas” brasileiros aparentemente estão entre os primeiros a abraçar a causa da Web 2.0 (e vão abraçar a Web 3.0, 4.0…) e defendê-la como a nova quintessência da grande rede. Brasileiros são normalmente apaixonados pelo que fazem e acreditam (dizem até que Deus é brasileiro), e é notável esse comportamento entre os profissionais de Internet e a mídia “especializada” no que diz respeito à Web 2.0. Olhando-os de cima, tem-se a nítida impressão de que o caldeirão de crenças, promessas e de gurus (sempre eles) está fervilhando de novo, como há tempos não estava (talvez porque os gurus e especialistas de Web 2.0 de hoje fossem apenas meninos jogando video-game quando a histeria 1.0 terminou, quando a bolha explodiu). Isso é sempre muito bom ($), mas não deveria vir desacompanhado da análise crítica, que aparentemente poucos estão fazendo no caso da Web 2.0.

Pensando bem, não foi sempre assim? É verdade Alex… Por isso, que venha logo a Web 3.0 oras! Metodologias falaciosas, consultorias inúteis, gurus, livros e editores sedentos por pautas “novas” agradecem. Apertem os cintos!

Abaixo reproduzo alguns dos meus argumentos e fatos contrários à idéia de pioneirismo ou de ineditismo das “regras” da Web 2.0 de forma bastante direta. Este texto, com algumas poucas mudanças é o mesmo atualmente disponível na Wikipedia portuguesa (onde colaboro e escrevo para que o artigo não vire uma peça publicitária em favor da Web 2.0). Os argumentos e fatos abaixo servem como partida (apesar de seco e demasiadamente direto, “enciclopédico”) para começar a perceber que na verdade a Web 2.0 não tem nada de novo, que a Web 2.0 não é uma “mudança” (quando muito é uma evolução – que diga-se, é algo bem diferente de mudança). Referências e citações foram retiradas aqui, sendo que as mesmas existem no artigo atual (que vale a pena conhecer). Espero que apreciem.

Sobre conteúdo colaborativo e/ou participativo e inteligência coletiva

Os blogs e a própria Wikipedia são frequentemente mencionados como ícones da Web 2.0. Entretanto interfaces colaborativas, participativas ou capazes de gerar uma suposta “inteligência coletiva” sempre existiram desde que a Internet dava seus primeiros passos (no berço das universidades). Listas e fóruns de discussão – até mesmo a Usenet – são exemplos antigos de colaboração e participação. Vale lembrar que um bom exemplo de real inteligência coletiva (desta vez sem aspas), é aquela gerada por pesquisas sérias e por cientistas que se submetem ao processo de peer-reviewing. Esta inteligência está disponível nas velhas e jurássicas listas de discussão, e provavelmente não vai sair de lá tão cedo. O que se vê hoje na tal Web 2.0 não é inteligência. Inteligência é sinônimo de qualidade, não de quantidade. Os exemplos de “inteligência coletiva” da Web 2.0 são baseados em quantidade (com raras exceções). Sites como Digg.com geram “inteligência” pelo maior ou menor número de “diggs”/cliques num link. Isso é inteligência? O que se gera aí é simplesmente volume, não inteligência. Volume por volume, prefiro as velhas enquetes da Web 1.0… (são burras e imprecisas, mas ao menos assumem que o são). Outros vêem inteligência na enxurrada de tags e nas inúmeras classificações (folksonomia) que mais confundem do que ajudam em sites como o YouTube (tente achar uma informação de forma rápida por lá). Há os que ainda defendem que a inteligência da Web 2.0 está no sistema de rankeamento de links do Google. Quase lá! Outros usam o exemplo do modelo de desenvolvimento de software livre. Opa! Mas espere aí!… há quanto tempo o GoogleRank existe mesmo? 1998? E o desenvolvimento de software livre? Além de serem bem mais antigos, os processos tradicionais do desenvolvimento de software livre são parecidos ao processo peer-review da ciência – que é meritocrático em sua essência – e não podem ser comparadaos o popular oba-oba da Web 2.0. De novo a questão da “novidade” que não é bem uma novidade, e apropriação indébita de idéias antigas e maduras para validar uma falácia pop… Por esta razão, a imensa maioria dos exemplos de “inteligência coletiva” da Web 2.0 são imaturos, incompletos e falhos, passíveis inclusive (e efetivamente o são hoje em dia) de fraudes e problemas justamente por serem inteligências meramente quantitativas (google poisoning que o diga!), muito pouco qualitativas. No editorial de 30/12/06 do Diário de Notícias (português) podemos ler: “a tão exaltada Web 2.0 é, de um ponto de vista meramente quantitativo, um amontoado de lixo.” Eu concordo plenamente. Para poder falar em “inteligência coletiva”, a Web 2.0 precisa ainda comer muito arroz e feijão, pois qualquer coisa que se aproxime de “democracia” não é sinônimo de inteligência, vide nossos políticos.

Se você se interessa por inteligência coletiva na Internet (se ela é ou não é inteligente), sugiro a leitura do excelente artigo de Jaron Lanier, cujo título é bastante apropriado: DIGITAL MAOISM: The Hazards of the New Online Collectivism.

Ainda em 1995 o GeoCities (atualmente pertencente ao Yahoo!) oferecia espaço e ferramentas para que qualquer usuário relativamente leigo construísse seu website e publicasse suas idéias na Internet. A loja virtual Amazon desde o seu lançamento (em 1995) permite que seus clientes e visitantes postem comentários e informações diversas sobre livros que são vendidos na loja. A Amazon também já sugeria produtos correlatos (“pessoas que compram este CD também compram…”) como forma de monetizar ainda mais a operação. Em 1998 o Yahoo! lançava o MyYahoo!, permitindo que a página de entrada do site fosse customizada e personalizada (com notícias, cores e afins) individualmente.

Em suma: Conteúdo participativo e/ou colaborativo e as várias tentativas de inteligência coletiva não seriam idéias novas e revolucionárias, surgidas na Web 2.0. Ao contrário, seriam pilares bem antigos da Internet, permitindo que virtualmente qualquer indivíduo ou empresa, publique, opinie e compartilhe informações na rede.

Sobre a Internet como plataforma

Ainda na metade da década de 90 a Sun Microsystems lançou e patenteou o slogan “The Network is the Computer”, demonstrando sua intenção e posicionamento comercial em fazer da Internet “a” plataforma para todo e qualquer sistema computacional existente (o slogan veio reforçar as promessas de interoperabilidade, portabilidade da linguagem multiplataforma Java – “Write once, run anywhere” – parodiado por alguns como sendo na realidade “Write once, crash anywhere”). Ainda em finais da década de 90, começaram a surgir alguns padrões de interação entre aplicativos Internet, para que as então chamadas transações B2B pudessem ser realizadas de forma padronizada. O termo Webservices e o protocolo SOAP ganharam força e se popularizaram, sendo padronizados mais tarde pelo do W3C em 2001. Em 2002, Amazon, Google e vários players importantes desenvolveram e publicaram APIs para que desenvolvedores de todo mundo pudessem integrar seus serviços com o destas empresas. Redes P2P surgiram e fizeram sucesso muito antes de se ouvir falar em Web 2.0. Cita-se o popular Napster, ícone desta “revolução” ocorrida em 1998. Exemplos são inúmeros (passando por sistemas de controle pessoal – ex. site Elefante.com.br), financeiros (câmbio), previsão do tempo, etc.

Sobre tecnologias novas

Apesar de o termo AJAX ter sido usado pela primeira vez em 2005, as tecnologias que englobam o termo tiveram início ainda no final da década de 90, nos navegadores de geração “4” (Internet Explorer 4.0 e Netscape Navigator 4.0), que introduziram suporte à técnicas de remote-scripting. Com o lançamento da versão 5.0 do Internet Explorer em 2000, e a estagnação do Netscape Navigator (que mais tarde teve seu código fonte aberto gerando o excelente Firefox), a Microsoft inaugurou uma forma mais elegante de remote-scripting com o XMLHttpRequest. Daí até os dias atuais o conceito só evoluiu, ganhando força e notoriedade devido ao aumento no número de usuários da rede. Linguagens e frameworks de desenvolvimento rápido para web (RAD) já existiam antes da Web 2.0. Pode-se citar a linguagem ColdFusion da Allaire (1995) e o Fusebox (1998). A sindicância de conteúdo (famosa hoje pelo RSS), já chamada no passado de “conteúdo push” já era conhecida de usuários do Internet Explorer 4.0 e o seu serviço ActiveChannels. Agências de notícias como a Reuters já utilizavam sistemas de intercâmbio de conteúdo e notícias entre agências e consumidores de notícias muito antes do surgimento da Web 2.0, sistemas estes que inclusive foram os precursores dos padrões atuais. O próprio XML data de 1997. A portabilidade de sistemas para dispositivos móveis (a tão aclamada “convergência”), é um discurso antigo, que antecede em muito a Web 2.0, e que sempre esteve em constante evolução, cujo passo inicial remonta os primeiros dispositivos móveis, sejam eles celulares ou PDAs.

Sobre mudanças em marketing

Os críticos argumentam que não houve uma mudança significativa no marketing praticado pela Internet. Segundo eles, o dinheiro (oriundo de ações de marketing) continua sendo gerado da mesma maneira: via publicidade e serviços. Como exemplo: a maior parte dos lucros do Google vêm (e sempre vieram) de anúncios vinculados às suas buscas e sites que utilizam seus serviços. O Yahoo! por exemplo tem um modelo misto: publicidade e serviços. O Yahoo! Small Bussiness não é novo, já existia (porém não com esse nome) desde a época do GeoCities, quando você podia pagar um valor para ter mais espaço, vincular um domínio ao seu site, etc. Desde que eu me dou por gente, a Web sempre foi serviços. Conceitos como o de marketing viral são bastante antigos, sendo que seu vínculo com a Internet alvo de um livro (Idea Virus) de Seth Godin ainda em 2001. Empresas de publicidade na Web (ex. DoubleClick) já empregavam o pagamento por retorno antes do advento do termo Web 2.0. O próprio Google AdSense e AdWords não são serviços novos, derivam de empresas que já atuavam na Internet antes do Google (Applied Semantics – adquirida pelo Google e Goto/Overture, adquirida pelo Yahoo!).

As críticas e fatos não param por aí. Engrosse a lista se desejar. Na Wikipedia qualquer um pode editar. Lembre-se apenas de saber como fazer isso de forma parcial e respeitosa. Leia as guias de ajuda antes de começar a editar por lá, vai te poupar um bocado de dor de cabeça com os xerifes e “especialistas” que lá habitam.

Mas ainda não terminou. E o que os “especialistas” da Web 2.0 vão dizer sobre as críticas? Bem, eles vão dizer que não é bem assim, não é bem assado, que a “Web 2.0” é outra coisa, que a gente não entendeu nada porque é difícil entender, isso e aquilo… (prepare os ouvidos). O próprio guru-mór do termo, Tim O’Reilly já começou a “adaptar” (para não dizer mudar sutil e convenientemente) aquilo que ele já tinha papagaiado e dado como certo há cerca de um ano. A estratégia do figura é ir definindo a coisa enquanto ela está acontecendo e/ou puxando a atenção para as coisas que fazem mais sentido, descartando as besteiras ditas no passado. É o beta perpétuo de idéias, que também perpetua a sua exposição na mídia (o que é bom para ele e suas empresas). O’Reilly é acima de tudo um cara esperto. Que se dane o termo (ele malandramente já nem faz tanta questão de defendê-lo), o que importa são as idéias, o que importa são as pessoas… Lindo, mas tão vago e subjetivo como dizer que a “individualidade é algo muito pessoal”… Aliás, um parêntesis imporante aqui: por falar em vastidão, não deixe de conhecer o fabuloso gerador de lero-lero, perfeito para quando você quiser falar bonito sem falar nada. Se você é um “especialista” em Web 2.0 certamente vai adorar.

Mas não se engane: é só virar as costas que os especialistas voltam ao mesmo discurso e a descontrolada mania de botar nome em tudo o que vêem, over-and-over-and-over.

Continue fazendo seu website, suas aplicações, seus mashups, seja lá o que for sem se preocupar com a meme, a hype e todo o alvoroço (incluindo consultores e gurus paraquedistas) da Web 2.0. Continue fazendo-os com qualidade e com inteligência, melhorando-os sempre que possível. As regras do bom senso nunca tiveram uma versão 2.0. Pense nisso.

Leia também a versão 1.0 deste post.

Sobre o autor: Alex Hubner é gerente de tecnologia da ONG Amigos da Terra – Amazônia Brasileira e palpiteiro nas horas vagas.