Os estressadinhos de aeroportos

Nos últimos dias foram 14 trechos São Paulo – Brasília – São Paulo, a maioria a trabalho, outras a lazer (tenho família em Brasília e gosto muito da cidade). Não que eu ache ruim, pelo contrário, adoro voar, aliás, voar deveria ser um direito de todo cidadão. Todos, sem exceção, deveriam fazer uma viagem de avião na vida. Voar é uma experiência maravilhosa e estimulante, traz à tona aqueles pensamentos do tipo “somos pequenos”, me faz lembrar do meu avô querido (um dos grandes pilotos da Varig), de férias merecidas, e outras boas lembranças (papo para outro dia). Por isso resolvi que era hora de escrever sobre que algo sempre me chama a atenção em aeroportos domésticos do Brasil: o clima fake-corporativo que impera, especialmente durante os dias de semana.

Já pararam para reparar que nas salas de embarque e no lounge todos se portam como pessoas muito importantes, todos tem pressa, todos estão muito ocupados, todos são meio mal-humorados? A julgar pelas caras, pelo tom, pela altura da voz ao celular e notebooks abertos, todos os negócios e decisões importantes são tomadas na correria do aeroporto. Não é à toa que aeroportos são os locais prediletos para clonadores de telefone celular (info: esse post é de 2005, tempo em que ainda se clonavam celulares…). É ridículo, mas 8 entre 10 pessoas que estão falando ao celular nestes lugares estão ligando para “resolver algo” que certamente poderia ser resolvido antes ou depois do vôo de 1 hora de duração, e cuja conversa sempre vem precedida de um comentário do tipo: “estou no aeroporto, embarcando para tal lugar”… O resto é mero detalhe. Estão todos sempre muito atarefados, todos sempre fazendo alguma coisa muito importante. Muitos só ligam para dizer que estão no aeroporto, ou abrem seus notebooks como quem diz “sou um executivo muito ocupado”, blá, blá, blá. A sociedade, as caras e as atitudes não mentem: valorizado é aquele sujeito sem tempo para nada, cuja vida é definida em blocos de 5 em 5 minutos, e os aeroportos são antros desse tipinho de gente.

E quando estes fazem aquela cara enfadonha quando enfrentam alguma fila? Oras! São filas menores que as que enfrentamos em caixas de supermercado! (ah, me esqueci, estas pessoas não vão a supermercados…). Mesmo assim, para dar a impressão blasé do tipo “não agüento mais andar de avião”, fazem aquelas carinhas de super-ocupadinhos-sem-paciência. Você identifica esse tipo de gente rapidamente no meio da multidão, a maioria usa aquelas tags/cartões de milhagem pendurados nas bolsas/malas, meio que para mostrar “o quão aborrecidos” por voar são. Sem falar nos olhares de reprovação para com passageiros que demonstram alguma dúvida ou estão hesitantes sobre qual portão embarcar, o que fazer com a bagagem e afins, “atrapalhando” o fluxo de engravatadinhos apressados como eles (como se o avião fosse partir deixando-os por lá). Um transe coletivo de gente estressada no melhor estilo “come sardinha, arrota caviar”. E isso vale mesmo para alguns que voam Gol e acham que estão fazendo o trecho Londres-NYC de Concorde…

Por falar em notebooks. Qualquer pessoa mais sensata sabe que usar o notebook no colo, seja na sala de espera ou na “poltrona” do avião, não é confortável, além de (normalmente) ser anti-produtivo (seu pescoço não dói?). Mesmo assim estão todos eles lá, abertos, com seus usuários fazendo “cara de conteúdo”, como se estivessem lendo o relatório ultra-secreto mais recente da CIA. Muitos sequer estão vendo alguma coisa, pois desviam o olhar a cada dois minutos (observe, você vai perceber o que digo). Um vôo entre Brasília e SP, por exemplo, demora 01h20. Entre pouso e decolagem você terá cerca de 45 minutos de tempo para usar o notebook. Nestes 45 minutos, certamente será interrompido de 5 em 5 minutos, seja pelo passageiro do lado querendo levantar, pela comissária te oferecendo alguma porcaria, pelo entra-e-sai dos banheiros, por uma chacoalhada do avião, pelas esbarradas do vizinho, whatever. Sendo generoso, te sobram 30 minutos de uso. Entre pegar o notebook da sua pasta no chão ou no teto, abri-lo, esperar carregar (ele vai estar na bateria, lembre-se), e começar a trabalhar, te restam uns 20-25 minutos ou menos. 25 minutos justificam a trabalheira que é abrir um notebook naquele aperto, correndo o risco de estragá-lo com os espirros de refrigerante do carrinho de serviço e as cotoveladas que você dará no seu vizinho? Pense bem. Não seja mais um destes “workaholics” que perdem tempo fazendo pose de gente importante, seja ao notebook ou ao telefone. Todos nós somos importantes, inclusive aquela família saindo de férias ou aquele senhorzinho que comprou uma passagem em promoção com meses de antecedência para visitar a família no nordeste. Pressa, ocupação e postura enfadonha, abobalhada, “de rotina” não são indicativos de importância, muito menos de status em um aeroporto. Se você pensa o contrário, sinto muito, você é apenas mais um ego no meio da multidão.

Aproveite o vôo para pensar na vida, refletir sobre as coisas que realmente importam nela. Ouça uma boa música no seu walkman (pode ser um iPod se você não quiser deixar de ser sofisticado). A 10 mil metros de altura você tem uma visão privilegiada do mundo, seja a vista das formações de nuvens, seja do chão. Sempre existe algo novo para se reparar e pensar (nem que seja pensar em nada), mesmo que você faça aquele trecho toda semana e este te pareça tedioso. O céu e a Terra nunca serão iguais em todos os vôos, tenha certeza. Procure voar logo de manhã cedo ou ao entardecer e também nas noites de céu claro (com Lua cheia é mais bonito). Ao se entregar àqueles poucos minutos em que você cruza os céus a 900km por hora, estará fazendo um bem muito maior que qualquer três ou quatro e-mails que você poderia preparar neste ínterim, inclusive para o seu negócio (que depende em essência da sua saúde e idéias). Voar é uma hora perfeita para refletir, uma hora de ter boas idéias, de desfrutar da sua imaginação, entre tantas outras coisas que só o ócio criativo, estimulado pela estonteante visão de estar entre o céu e Terra é capaz de produzir. Tem medo de avião? Use este tempo para domar o medo, ou mesmo para pensar na morte, pois ela virá para nós cedo ou tarde, calma ou violentamente, e teremos que enfrentá-la de alguma maneira.

Poucos sabem, mas eu sou piloto privado – tirei meu brevê em 1998 – e um aficionado por aviação. No dia em que for voar comigo, não fale de trabalho, fale da beleza de voar e dos benefícios desta experiência maravilhosa para a sua vida. Sempre que posso, vou na janela. Sempre que posso, escolho o lado em que o Sol vai se pôr (ou nascer). Sempre que posso, me comporto como a mesma criança que voou a primeira vez. Voar deveria ser um direito de todo cidadão. Uma visão e uma experiência destas não deve ser ignorada, nunca.

por_do_sol_10k.jpg
Esta é a asa de um “triple seven” – uma máquina de sonhos… e com um pôr do Sol destes, como ignorar?
(clique para aumentar)


24 Comments on “Os estressadinhos de aeroportos”

  1. Douglas Camargo disse:

    Alex, adorei o post e a foto! Eu concordo com tudo o que vc escreveu, procuro aproveitar as minhas viagens semanais à Brasília para refletir sobre tudo, é um momento único.

  2. Emanuel disse:

    Pô! Quando eu viajo passo em média 13 horas no avião e 17 horas entre sair de casa e chegar no destino. Se eu só for refletir vou ficar igual ao buda! heheheh! Eu quando levo laptop é só pra jogar ou ler e-books! Tem coisa melhor?! Uma partinha de gamão a 30 mil pés?! Inclusive li bastante sobre o CFMX7 agora nessa minha última viagem! Outro detalhe é que me pelo de medo de avião, não quando tá subindo, nem quando tá descendo, nem quando tá lá em cima. O meu medo é quando pego aquelas turbulências violentas normalmente experimentadas em vôos internacionais! Ai é a hora que eu vejo muito macho mesmo se tremer! ;o)

  3. Alex Hubner disse:

    Em vôos internacionais (especialmente os noturnos) o legal mesmo é dormir. 😉 Tome um remedinho antes de embarcar e espete umas almofadinhas anti-ruído no ouvido, é tiro-e-queda. Você acorda meio zureta, sem saber direito onde está, mas pelo menos a viagem passa rápido (e você pode morrer sem perceber se o avião estourar em pleno vôo de cruzeiro, viu Emanuel?…). O que me espanta é nego querendo usar notebook no trecho Rio-SP e achar que vai produzir alguma coisa de útil nesse meio tempo. O melhor é ficar “filmando” o comportamento dos outros e pensando na sua vida. Isso sim é divertido. 😉

  4. Vicente Junior disse:

    Hahahaha! Alex, vc me mata de rir! Nunca me senti tão estimulado ao ler (e depois responder) um Post seu! A citação dele no final do seu email, imediatamente me fez pensar: “Ai ai ai… lá vem merda!”. E ótimo! Essa foi a melhor “merda” que eu já lí. Sério! A gente fica o dia inteiro sendo bombardeado de informações e desafios técnicos. Fora que eu tenho mania de ver um problema e querer resolvê-los. Então, parar para ler a respeito de um assunto “fora do normal”, foi ótimo!
    Só tem um problema: PQP, na proxima vez que eu estiver no aeroporto, a última coisa que farei será telefonar ou atender o celular, e muito menos ligar meu Notebook. Prefiro ficar rindo dos outros! Abração!

  5. Alex, fantástico. Também sou entusiasta dos vôos contemplativos – já fazia isso quando só viajava (e muito) de ônibus, agora de avião as coisas ficam ainda mais interessantes.

    E as suas “picuinhas” com os “workaholic wannabes” é ótima, fonte de muita diversão e novos pensamentos.

    Valeu!

  6. Belo, engraçado e verossímil post (falei bonito, até parece um dos “tipinhos de reuniões*”)!

    Tem também aquela pessoa super importante, com seu laptop de marca a tira colo, sentado confortavelmente no salão de embarque com infindáveis cliques de mouse que ao passar alguém próximo, abaixa o monitor, fechando levemente o laptop como se estivesse tentando proteger seu importantíssimo relatório da CIA de agentes ultra-secretos que o estão vigiando. “The Matrix has you”.

    Basta sentar ao lado de um destes para ter diversão garantida, participando da brincadeira, fingindo ser um agente que quer roubar aquelas informações valiosíssimas (normalmente e-mails com piadinhas ou planilhas em Excel vazias).

    A propósito, linda foto!

    * http://www.cfgigolo.com/archives/2005/04/reunioes_corpor.html

  7. Oi Alex, resolvi postar apenas p/ deixar a observação feminina,afinal só tem homem aqui!
    Show o txt, linda a foto! Mas eu sei que por trás deste txt imbuido de intelectualidade e rebeldia mora o Lelex. eheheheheh.

  8. Marcos Placona disse:

    Nossa Alex, acho que esse foi um dos melhores posts que li nos ultimos tempos.
    Nao conseguia parar de rir, pois tudo oque voce falou acontece a todo o tempo do nosso lado e algumas vezes nem percebemos, ou quando nos damos conta estamos fazendo a mesma coisa falando: “Oi, estou no aeroporto!”. Nao por maldade mas por puro senso de… “Devo satisfacoes para quem me liga no ceulular” hahahahah.
    Minhas ultimas viagens foram um tanto quanto longas, entao percebi bastante disso… Caras que iam passar 13 horas dentro de um aviao, e que entravam de roupa social, sentavam no aviao, abriam o notebook e fingiam que iam trabalhar. Alguns vi que chegavam no aeroporto, e simplesmente com suas camisas pra fora da calca e suas gravatas pra la de soltas, pegavam o taxi e iam pra casa!
    Ja ouvi ate historias de gente que diz: “Eu quando vou viajar de aviao gosto de ir bem arrumado, mesmo que saia do aeroporto e va direto para o hotel”. Fala serio ne!!!
    Bom e isso ai, nesse topico vi uns caras que fazia tempo que nao via, como o Vicente Jr, Fernando e Douglas.

    []’s a todos,

    Marcos Placona

  9. alexandre disse:

    Gostei dessa Alex.
    Realmente, nessa sociedade em que vivemos,
    só tem neguinho querendo ser o que não é.
    Por isso até existe um grande peso sobre a tecnologia, como a aviação, ou a informática, que
    segrega as pessoas e acabam criando essa raça mutante de seres preocupados com o próprio umbigo,
    morando em condomínios fechados, carros blindados,
    enquanto as febens, hospitais públicos ou sistema carcerário deletam os não inseridos nesse maravilhoso mundo novo.
    Temos que ser cada dia mais aptos as tecnologias,
    conhecer as linguagens que nos são impostas pelo modelo, e não temos tempo para sermos nós mesmos,
    nem em nossas vidas, muito menos no aeroporto.

  10. alexandre disse:

    Gostei dessa Alex.
    Realmente, nessa sociedade em que vivemos,
    só tem neguinho querendo ser o que não é.
    Por isso até existe um grande peso sobre a tecnologia, como a aviação, ou a informática, que
    segrega as pessoas e acabam criando essa raça mutante de seres preocupados com o próprio umbigo,
    morando em condomínios fechados, carros blindados,
    enquanto as febens, hospitais públicos ou sistema carcerário deletam os não inseridos nesse maravilhoso mundo novo.
    Temos que ser cada dia mais aptos as tecnologias,
    conhecer as linguagens que nos são impostas pelo modelo, e não temos tempo para sermos nós mesmos,
    nem em nossas vidas, muito menos no aeroporto.

  11. boring disse:

    Cara, aeroporto é chique mesmo! Tem um glamour… um q de cumplicidade, mas é bom a passeio a trabalho.. blah ai sim é enfadonho ZZZzzzz blah!

  12. Ana Marta disse:

    Talvez vc nunca leia esse meu comentário, já q feito a tanto tempo depois de ter sido escrita essa crônica ma-ra-vi-lho-sa. Que concisão, que coisa bem dita (e bendita não há dúvida!), que bom poder pensar q não só existem pessoas com quem compartilho de tal pensamento, mas sobretudo que sabe expressá-lo bem por demais. Adoro viajar, seja de carro, de ônibus, de barco ou de avião, sempre dou carona à minha mais deliciosa alegria: fantasiar. Fantasiar “q a vida pode ser bem melhor e será!”, que da distância entre o ponto A e o ponto B existem infinitas possibilidades, fantasiar q essa viagem será tão maravilhosamente inesquecível quanto as outras… Enfim, mesmo cumprindo as mais rotineiras distâncias, há sempre o tempo suficiente e imprescindível de se pensar a vida, mormente qdo estas distâncias são percorridas voando. Obrigada pela leitura, obrigada por me fazer fechar meu dia mais feliz do que já estou. E olhe q te achei, procurando no google, uma foto linda de por-do-sol, para mandar a um amor que está a kms de distância. Para dizer a ele que logo logo estarei num vôo (nem um pingo estressada, vale ressaltar!) para vermos juntos um por-do-sol tão lindo quanto o que eu vi hoje, do Porto da Barra.
    Um grande abraço e, q um dia possa ser sua companheira de viagem, afinal fiquei mesmo muito instigada a fazê-lo.
    Ana

  13. Raquel disse:

    Alex…
    Com tantas palavras maravilhosas e sensatas, ainda não tenho coragem de re-entrar num avião.
    A única coisa que quero da vida é viajar de avião, é a única frustação que tenho, e não gostaria de morrer com ela…
    Valeu..Abraço Raquel

  14. Raquel disse:

    Alex…
    Com tantas palavras maravilhosas e sensatas, ainda não tenho coragem de re-entrar num avião.
    A única coisa que quero da vida é viajar de avião, é a única frustação que tenho, e não gostaria de morrer com ela…
    Valeu..Abraço Raquel

  15. Etienne Henriques Malkine disse:

    Eu tb gostei muito do post!

    Ô gentinha pobre esses idiotaholics!! hahaha!

    Não vôo muito não, mas lembro-me que na última vez, aproveitei o pouco tempo (Bsb-SP) para COSTURAR UMA CALÇA BOCA DE SINO.

    Meu colega se ria todo morrendo de vergonha pq todos acharam meio estranho!
    E eu sou homem (não se enganem pelo meu nome – Etienne = Stevam)

    Avião é um baú de asas. Leva e trás passageiros. Fala sério!

    Se emperequetar p voar? Pobreza total!

    SE eu tivesse um laptop, o usaria p jogar ou me divertir, somente na poltrona… usaria sim! Mas ficar fazendo pose é coisa de gentalha! hahaha!

    “Ser humilde não é ser ou fingir ser pobre,
    é saber quem você é, independente do que outros pensam!”

    Um abração a todos os humildes!

    Uma vaia para os idiotas posudos! aff

  16. janaina disse:

    Lendo deu texto eu pude visualizar o saguao e o corredor do aviao.Realmente, como tem gente besta neste mundo!As piores sao as peruas,que colocam a melhor roupa,so para ir ali em SP.

  17. Olá!
    Gostei muito do seu post! Trabalho em aeroporto e sei muito bem como são essas pessoas! As vezes nem desligam o telefone para fazerem seu checkin. E na hora do embarque, querem por que querem seguir para a pista com o celular no ouvido!
    Eu também sou uma apaixonada por aviação.
    Faço faculdade de jornalismo e até criei um blog sobre aviação. Se me permite, estou “linkando seu texto” ao meu blog.

  18. bom minha primeira andada de aviao, eu me estrecei muito por causa que eu fiquei mais de uma hora esperando meu voõ mais eu ja sabia o que estava acontecendo em tempo de chuva era bom que eles dessem “” RRango pra nois tudo””
    ops”” lanche( hamburguer ) vcs que estao lendo esse meu recado um pedido que possa me ajudar que estou me esforsando para ser piloto de um air bus A-380 ENTENDEU???…… TCHAU E VISITEM MEU ORKUT PAULINO_CARRO15@YSHOO.COM.BR

  19. Rafael disse:

    Pois é manicaca, a única coisa realmente boa que a maldita tecnologia moderna nos proporciona é poder lêr seu texto depois de 1 ano de postado, e te dar os parabéns, tudo isso online.

    Muito legal mesmo, digno de crônica de jornal (e dos bons).

    Abraços.

  20. José Ribs disse:

    É, meu amigo. É isso e muito mais (ou seria muito de menos).

    Eu gosto é de viajar na janela, olhando desde o início, quando o avião está parado, estão abastecendo, carregando as malas no seu interior…

    Quantas e quantas vezes eu vi e vejo olhares de reprovação contra mim. Contra a minha calça simples, uma camisa de plebeu e um tênis velho.

    Pessoas do meu lado, talvez atrás e na frente riem de mim, porque fico o tempo todo olhando para fora da aeronave. Quando a aeromoça traz o lanche e pergunta com toda a educação: “Senhor, deseja algo ? Uma bebida ? Um lanche ?” Eu respondo sorrindo: “Não muito obrigado”. E continuo olhando lá para fora, descobrindo uma nova montanha que eu acho que não estava lá antes, tentando adivinhar exatamente onde fica Armação de Búzios, naquelas praias lá embaixo.

    Meu caro, sou um privilegiado. Tenho saúde perfeita (problema na coluna e uma desordenação na
    absorção de glicose não são nada, certo ?)

    Às vezes me pergunto: O que foi que eu fiz para essas pessoas ficarem rindo assim de mim ? Por que elas não aproveitam para ver o que os pássaros receberam como recompensa e herança ?

    Mas, como disse, eu só tenho a ganhar. Viajo ao lado de pessoas muitíssimo importantes. E Lindas mulheres. Ainda bem.

    Um dia comecei a ficar entediado porque a funcionária da GOL em Vitória me fez despachar a bolsa de viagem que estava acima de 5 Kg. Depois, durante o vôo eu relaxei e vi que ela estava com toda a razão.

    Na minha frente, no embarque tinha uns camaradas engravatados com suas malas mais pesadas que a minha. Dava para ver.

    Mas eu estava com roupas simples, lembra-se.
    E em outra viagem ela me deixou embarcar com 1 ou 2 Kgs a mais. Ha Ha Ha !

    Mas Ainda bem que não teve turbulências.

    Nestas horas de turbulência, eu adotei uma postura própria: expiro o ar um pouco lentamente, inspiro totalmente e fico… olhando para fora.

    Olhando para fora ? Durante a turbulência ?

    Sim. Pois numa viagem para o Rio, saímos com sol e calor de Vitória e tudo mudou durante a viagem, principalmente depois de estarmos já sobre o estado do Rio: nuvens negras e pesadas no horizonte me anunciaram o que eu não gosto: turbulência (antes eu sempre queria passar por dentro das nuvens – eu nunca tinha feito essa experiência antes) – e nesta turbulência, aquele grupo de playboys e valentões, junto com as meninas ricas e importantes ficaram em silêncio.
    Até ouvi um pequeno grito quando a aeronave teve uma pequena queda de sustentação e tombou, um pouco para a direita, caindo alguns pouquíssimos metros, suponho.

    Eu estava olhando para a frente do avião e vi o centro de gravidade e a inclinação da aeronave serem afetadas, principalmente quando ela deu esse pequeno “tombo”.

    Mas Deus é grande.

    Se possível, poste algumas curiosidades da arte de voar, aviões, etc.

    (tem um comandante da GOL ou TAM que fala informalmente da cabine de comando, mostrando praias, montanhas, sugerindo passeios no fim-de-semana. Foi a primeira vez que fiquei sabendo da temperatura fora da aeronave – abaixo de zero – em pleno dia de sol tão forte e límpido.

    Chega não ?

    Saúde e felicidade a todos.

  21. Christiane disse:

    Simplesmente perfeita essa históriaaa…parece que estou vendo aquele corre corre do aeroporto, bem exatamente como dissestes. Você é piloto de qual cia.aérea ? Conheço uma turminha da Varig.

  22. Michelle disse:

    Olá,

    em uma pesquisa, navegando pela net, vim parar aqui! 🙂 adorei o post…concordo com vc sobre o que vc escreveu em gênero, número e grau. Também sou da área e faço pesquisa com passageiros nos aeroportos (para a tese) e eu sei bem cada linha que vc postou lá em cima…rsrs, que bom encontrar pessoas com a mesma visão (ufa!). Sucesso!

    um abraço, Michelle

  23. Israel disse:

    Olá Hubner, sou piloto em Belo Horizonte e gostaria de dizer que aqui na Pampulha ou em Confins é a mesma coisa. A diferença é só na densidade. Haja paciência. As pessoas são muito mais bem humoradas ao andar de taxi, de coletivo, de bonde ou de balsa do que de avião.

  24. Uma sugestão para o combate aos sintomas do estresse seria uma quick massage onde geralmente o profissional vai até, muito útil para quem pode “perder” muito tempo.