Mods and Mobs

Esse post será bem diferente do usual para o CFGIGOLÔ. Seu conteúdo é extenso e não tem nada de ColdFusion, nada de Macromedia. Pegue uma bebida antes de ler. Não é algo que vai te deixar feliz. Tratar de assuntos conflitantes como futebol, religião, política e previsão do tempo é sempre complicado. As pessoas tem suas opiniões, suas paixões, suas ideologias e por ventura seus radicalismos.

Eu moro em São Paulo. Passo diariamente por ruas de grande movimento, como a R. Funchal, a R. da Consolação e a Av. Dr. Arnaldo. Eu tenho acompanhado, de alguns meses para cá, uma considerável piora no trânsito em São Paulo – explicável: muitas avenidas estão em obra e/ou sob reformulações – e de alguns dias para cá na Dr. Arnaldo e na Consolação.

Vou contar uma historinha. Na Dr. Arnaldo havia uma faixa exclusiva para aqueles que, vindo da Dr. Arnaldo entrassem direto na Consolação, sem semáforo ou outros veículos atrapalhando. O fluxo era contínuo. Em ocasiões de maior movimento, sim, ficava devagar, mas o fluxo prosseguia, afinal, a faixa era de passagem livre entre duas grandes e movimentas vias.

São Paulo tem um problema grave de trânsito. Uma das soluções foi a tentativa de priorização do transporte coletivo, no qual se enquadra o corredor de ônibus. Corredor de ônibus não é, nada mais, nada menos do que mudar os ônibus que andavam em todas as faixas das ruas, e com os pontos à direita, para uma faixa exclusiva de ônibus, com os pontos à esquerda. Veja que há uma faixa exclusiva para ônibus, mas esta não é a única faixa onde eles podem transitar. Ainda há ônibus nas demais faixas. Não estamos na Inglaterra. Continuamos dirigindo na esquerda. Carros ainda vão para esquerda. E ônibus ainda vão para a direita. Por conta disso é comum ver carros tentando dobrar à esquerda sem sucesso e ônibus literalmente atravessados em avenidas tentando chegar ao outro lado.

A Consolação é uma via importante, que liga, junto com a Dr. Arnaldo, a Zona Oeste ao Centro. Não poderia ser diferente, e a Consolação ganhou um corredor de ônibus novinho em folha, todo pintada, com algumas novas árvores e florzinhas bonitinhas. Aquela faixa exclusiva – que era na esquerda – que havia para todos, inclusive ônibus, saírem da Dr. Arnaldo e entrarem na Consolação agora é faixa exclusiva dos ônibus. E tem semáforo! Os “bumba” agora vêm da esquerda e tanto continuam na esquerda, mantendo-se na Consolação ou atravessam esse complexo viário para entrarem na Paulista. Fluxo contínuo? Pra que?

O resultado não poderia ser mais desastroso. A Consolação se liga à Dr. Arnaldo, que se liga à Heitor Penteado, que se liga à Cerro Corá. Isto é, do Centro se chega a Lapa com essas quatro grandes ruas e vários quilômetros. Todas as citadas vão nos dois sentidos – centro-bairro e vice-versa. Eu por sorte, quando vejo essa situação, estou no sentido centro-bairro, o que é um pouco menos pior (no horário que eu passo), mas acompanho, observando do outro lado da pista, lliteralmente parado – e sem expectativas de movimento – do fim da Consolação até o meio de Heitor Penteado. E só vejo até o meio porque eu acabo virando em um determinado retorno para tomar o meu caminho. Mas não me surpreenderia ao ver até um pedacinho da Cerro Corá parado.

“Ah, mas 18:30 tem trânsito em todo lugar da cidade”. Humpf… Eu notei isso as 15:30 de uma quinta-feira. (E 17:00 de uma quarta, 18:00 de uma terça, 16:00 de uma segunda…)

É claro que não é culpa APENAS da faixa que tornava o fluxo contínuo. Deve ter havido outras mudanças, como tempo de semáforo, que eu não notei, que ajudaram ou pioraram. A uma equipe que tem o encargo de analisar essas obras.

Você conhece algum engenheiro? Ele é meio zureta? Abobado? Matematicamente analfabeto? E ele sabe fazer contas? Sabe calcular? Sabe pensar? É perspicaz? Alguém me responda como os engenheiros de tráfego da CET – que é a Companhia de Engenheria de Tráfego – deixa uma coisa dessas acontecer? Eles não sabem fazer contas? Eles não tem estatísticas? Eles não simularam? Eles não pensaram no que iria acontecer?

Veja: eu não estou criticando os corredores de ônibus. Talvez eles até sejam uma boa idéia e funcionem muito bem em algumas avenidas. Ninguém deveria esperar que essa fosse a solução de todos os problemas. Mas piorar ainda mais só pode ser brincadeira… Estou criticando a falta de competência dos engenheiros de tráfego que estão envolvidos nessas mudanças por toda a cidade. Até a indústria de multas é melhor geenciada.

De flashmobs eu lembrei. Quem se lembra disso? Eu não acompanhei muito a fundo essa forma de mobilização sem motivo aparente e algumas vezes em prol do nada. “É só os motoristas ignorarem a mudança e fazerem como antes, quando a situação era menos pior”.

Não sei exatamente o que são esses flashmobs, não sei em prol do que eram feitos, qual era a utilidade, se obteram os resultados que almejavam. Enfim, estou falando do que não conheço. Mas eu conheço um pouco de inglês para ver que eram mobilizações e um pouco de história, para saber que “povo unido jamais será vencido”, que “a união faz a força”, que aquelas passeatas que atrapalham metade de cidade funcionam, que o impeachment no Collor funcionou, que a Europa faz mobilizações e passeatas (que funcionam, ora pois!) nas ruas quando discordam de alguma coisa, fazendo seus representantes realmente os representarem, e por aí vai.

Não sou muito velho. Não fui cara pintada. Não participei de mobilizações estundantis. Mas sei que funcionaram. Antes eram estudantes. Antes eram jovens. Hoje são surfistinhas, mauricinhos, skatistas, clubbers, nerds… Ninguém é mais simplesmente uma pessoa. Você tem que – se não estiver pode deixar que alguém se encarrega de te enquadrar – em uma ou mais categorizações e estereótipos. Surfistinha não se bica com mauricinho. Clubber não se dá com skatista. Auto-segregação.

Eu sou contra greve. Acho que é um tipo de mobilização errada. Sou contra passeatas na Av. Paulista as 18:00 horas. Afeta pessoas que não tem nada a ver. Sou contra quebrar vidros do Palácio do Planalto.

Tem alguma coisa que você acha errado? Questione. Tem algo que você discorda e você tem moral e experiência para falar sobre? Então argumente. Não esperneie ou faça bagunça. Argumente! Leia, aprenda e desenvolva bases para poder discutir em um nível superior. Ou mobilize(m)-se de uma maneira coerente e correta.

Não tenho certeza se esse texto era para acabar por aqui, e com esse assunto. Mas acho que consegui rascunhar sobre algumas coisas e passar algumas idéias. A propósito: esse texto não tem nenhum cunho eleitoreiro a meu favor. 🙂